as excursões valeram muito pela narrativa do guia Pastrana sobre a história do lugar, dos povos da região; a outra história, a que não se ensina na escola, e que faz confundir um pouco as crianças dali quando a história contada na escola é diferente daquela contada pelos avós. interessante nisso a reiteração do que a gente já sabia na teoria mas nunca parece se dar muita conta: a curta duração do império inca, e o quanto se esquece que antes dele estavam outros povos, de muitos anos antes. parece que pré-colombiano na América do Sul é inca e acabou, e na verdade inca foram uns cem anos. pois. fim de tarde de primeiro dia em Amaicha del Valle o grupo (eu, Andressa, Marcela e Federico) nos metemos com o jipe sem vergonha de Seba Pastrana rumo ao deserto Tiu Punku, vizinho do povoado. ali pelo meio do caminho, já metidos no deserto, eu e Federico subimos ao teto do jeep pra seguirmos ali até a primeira parada. um vento violento e muita areia. muita muita muita areia. um troço mui divertido, na verdade.
paramos para o trekking e umas formações absurdas com cores e formatos pra fazer pensar que algum artista engraçadinho foi lá e montou todo o cenário. o fim de tarde dava à paisagem um clima meio alienígena.
o sol se escondeu atrás da montanha e a luz ainda se manteve na montanha à leste num tom alaranjado.
quando finalmente chegou a escuridão nos metemos de volta ao jipe pra se dirigir ao lugar em que comeríamos a merienda. com luz das estrelas. porque claro que já esfriava, um vento gelado. Seba Pastrana fez uma fogueira e esquentou a água do chá, que tomamos com pão caseiro. perdi alguns minutos procurando as três marias que eu não encontrava fazia muito tempo e na verdade continuaria sem encontrar até uma noite em Iruya, uns dias mais tarde. paf. voltamos em tempo pra janta no hostel Pacha Cuty. dia seguinte pela manhã segunda excursão com Pastrana: ruínas de Quilmes. Marcela ficou porque tinha que voltar pra Buenos Aires e Federico queria ficar mais uns dias. fomos eu e Andressa com mochila e tudo, porque depois tomaríamos o ônibus a Cafayate na pista em frente à entrada pras ruínas, na famigerada ruta 40. a nós se juntaram uma espanhola-catalã chamada Corali e mãe e filha de Buenos Aires. Pastrana conta mais da história dos povos dos valles Calchaquíes antes que entremos nas ruínas e nos pede pra imaginar aquele lugar antes da invasão espanhola, com seus milhares de habitantes e ruas e casas e lhamas. faz imaginar o que era subir à cidade da guerra na eminência de um ataque levando os velhos, as crianças, comida, água. que é pra depois você ficar se sentindo um preguiçoso quando está subindo aos mirantes mais altos e a (pouca) altitude te cobra o fôlego.
fico pensando que sem a história as ruínas se transformam em um monte de pedras.
porque o cenário árido e de poucos contrastes poucas cores que na verdade não têm muito a dizer a uma câmera fotográfica. as ruínas de Quilmes impressionam pelo tamanho, mas a mim custa ter noção do que podia ser uma cidade como aquela para os habitantes daquele lugar. mesmo os exercícios de abstração propostos por Pastrana se perdem um pouco: mais de 200 anos de resistência contra a invasão espanhola até que fossem subjugados, expulsos, enviados à província de Buenos Aires a pé em uma caminhada de muitos dias. fiquei também pensando que estranho era naquele momento eu saber tanto sobre um povo tão específico daquela região argentina e ainda saber tão pouco sobre o que há de mais específico das culturas indígenas no Brasil.
na volta passeamos pelo atual povoado de Quilmes e Pastrana nos deixou na parada da ruta 40, junto de Corali que também ia a Cafayate, para tomar o ônibus que nos levaria até o próximo destino por uma estrada de montanhas atrás de montanhas atrás de montanhas.