esse povoado metido entre montanhas que todos com quem eu topava pelo caminho diziam tenés que ir a Iruya. oito da manhã em Tilcara estávamos num ônibus com pinta de ônibus de linha e cadeiras um pouquinho mais confortáveis, as duas fileiras da frente fazendo as vezes de porta-malas (ao longo da viagem sobre nossas mochilas foram um enorme buquê de flores e um menino de uns 5 anos, nessa ordem). muitas senhoras mui paquetas de chapéu com pompons e fitas coloridas, mui coloridas e arrumadinhas pra festa da virgem. parte da viagem é pela ruta 9 (talvez a segunda rodovia mais famosa da Argentina, depois da ruta 40) na quebrada de Humahuaca, incluindo uma parada em Humahuaca (mui rápida que o motorista estava numa pressa desgraçada) e com montanhas por todos lados (como convém a uma quebrada).
logo no início vimos à esquerda atrás do cordão montanhoso mais próximo um pico todo nevado, muito nevado, tão nevado que parecia qualquer coisa menos um pico nevado (uma gigantesca barraca de camping branca, por exemplo). pensei que a chuva dos dois dias anteriores, e o frio pela noite, enfim. depois ainda adiante pela quebrada aparecia outro pico nevado (um pouco menos nevado) e de qualquer forma com o sol forte que ia subindo mesmo a primeira montanha que vimos já tinha umas mesclas de branco e terra. em um pouco da rodovia o ônibus toma à direita numa estradinha de terra, e aí começa a subida, e as curvas. pela quebrada são mais ou menos 2600 metros de altitude, mas o ônibus vai se meter pelas montanhas até alcançar uns quatro mil, mais ou menos, na divisa entre a província de Jujuy (onde eu estava) e Salta. (a província de Salta tem um formato esquisito e por isso está ao sul e ao norte e a leste de Jujuy ao mesmo tempo.) pelo caminho um monte de pueblitos minúsculos e cinzentos, alguns a mais de três mil metros de altitude. quando quase na divisa surgiu uma montanha gigantesca e toda nevada, branquinha, tão próxima de onde estávamos. quando mais o ônibus subia, sempre num ziguezague (literalmente um ziguezague) com curvas de quase 180 graus, mais próxima ficava a montanha e mais se percebia que ela era ainda maior do que à primeira vista.
então um vale enorme, e a montanha gigante à direita. o ônibus havia alcançado a abra del cóndor, divisa entre províncias, e de lá de cima se via o começo da quebrada que levava a Iruya e ainda ao fundo outro pico nevado, distante.
cruzamos uma ponte e começou mais um ziguezague sem fim.
vê que desde a entrada da estrada de terra são uns 50 km e o ônibus leva quase duas horas pra fazer esse percurso. muitos ziguezagues e a montanha branca ali ao lado coisa mais linda.
alcançamos a quebrada e passamos ainda por outros minipovoados e mais algumas curvas; (informo orgulhosa que faz mais de um mês que viajo de ônibus sem tomar dramin e se não fizer a boluda e manter a atenção do lado de fora não passo mal que belezinha) pois: no rio quase seco pouco antes de chegar a Iruya (já se via na distância o bienvenidos a Iruya escrito com pedras na montanha) um monte de barracas e lonas azul e negra, uma multidão pelo fim da estrada (a estrada TERMINA em Iruya, veja bem) subindo para o povoado. o ônibus nos deixou antes da entrada, uma ladeira relativamente íngreme, principalmente com mochilas e 2700 metros de altitude. ao lado direito o rio (que nessa época não está seco mas corre feito arroio num leito de uns 50 metros de largura) e à esquerda um paredão que é a cidade subindo. e subindo. alcança-se a igreja, a praça principal, a gente reunida na porta pra missa que estava acontecendo lá dentro. o palco da festa montado. e à esquerda mais uma ladeira sem fim, ainda mais íngreme que a da entrada. perguntamos a um senhor se aquela era a calle Belgrano. diz que sim e nos pergunta que estamos buscando. el de Asunta, respondemos. ele faz uma cara de pena e diz que vixe, é lá em cima de tudo, no topo. olhar adiante pensar que Ouro Preto era mais fácil do que aquilo.