a cidade de Caldera é feita de umas construções de madeira, coloridas, com pinta de cara pré-fabricada. na verdade são umas casinhas bonitinhas, mas que no conjunto formam uma coisa pouco harmônica. é uma cidadezinha simpática com uma praça grande, uma praia mei trucha e um porto pequeno. a praia serve pra ver as gaivotas e cegonhas pescando, mas as águas não são muito convidativas. vêm do mar um vento gelado e principalmente no fim da tarde não se pode caminhar sem abrigo (quero meu verão de volta). ficamos um dia nublado mei à toa e eu saí pra caminhar enquanto o Fernando morria de preguiça no hostal. aproveitei pra cortar o cabelo. importante cortar o cabelo. e me dei conta de que as últimas quatro vezes que cortei o cabelo foram todas em países diferentes. eita. (mais bizarro foi encontrar o guia Mariano Platero, de Villa Unión (quem nos levou a Laguna Brava), em sua inconfundível caminhoneta cheia de adesivos, que estava por ali para qualquer evento de burocracia turística para o qual o prefeito de Villa Casteli, um amigo dele que estava também na travessia à laguna brava, havia sido convidado.
às vezes parece que o mundo dá umas sacudidas extra e distribui pessoas inesperadas em lugares improváveis.) no nosso terceiro dia em Caldera acordamos mais ou menos cedo pra caminhar os cinco quilômetros até a praia de Bahía Inglesa, um pouco mais ao sul. seguimos pela ciclovia com um ventinho gelado e um sol mui tímido até alcançar nosso destino. de um mirante ali na entrada se via algo do mar, insuspeito em sua coloração cinzenta. o dia estava metade nublado metade azulado e o sol aparecia quando dava vontade. nos metemos por uma rua de areia até alcançar a praia, e da areia seguimos pela direita até dar de cara com aquela água verdinha turquesa transparente de praia caribenha de filme. um pedacinho só, entre as pedras, mas. um ventinho gelado. fomos meter as patas no Pacífico e congelar um pouco a alma. enquanto isso uma menina de uns dez anos brincava na água saltando como se estivesse no nordeste brasileiro. por aí essa cor é resultado de um pedaço de praia em que a areia muito branca não é ofuscada por qualquer tipo de lodo que escurece o mar um pouco mais adiante. são algumas praiazinhas cortadas por pedras negras, e não muito mais do que isso. ainda assim uma belezinha. matamos um tempo conversando com uma chilena que tinha se oferecido pra tirar foto nossa e morrendo de frio só de ver a criançada brincando no mar. mas gente. o céu estava meio nublado meio azul e o sol aparecia desaparecida, sem contar o vento. tive certo pudor de vestir o agasalho enquanto a turma ali ao lado tomava sol (mormaço) com roupa de banho. a brasileira com frio.
saímos pra caminhar o resto da praia e começar a empreender o caminho de volta; paramos antes pra comprar pão e frios e fazer um lanchinho numa praça. as casinhas algo me fizeram lembrar o litoral norte de São Paulo: as ruas de areia em todas as direções e qualquer coisa nesse clima úmido que eu já não encontrava havia algum tempo. na volta pela estrada Fernando sugeriu pedir carona, atravessamos a pista e vinha vindo uma caminhonetinha, ele ergueu um pouco o dedo com preguiça sem nem olhar pra trás e o motorista já encostou, e vamos a Caldera, nos lleva? claro, entrem etc. que eficiência. e claro que o mormaço nos fritou o cérebro e a pele, e eu estou precisando usar um pouco de lentes de contato pra ver se tiro essa máscara de guaxinim reversa que os óculos me deixaram.