a cidade tem uns cem mil habitantes. um paraíso de escalada. ninguém sabe dizer nada sobre as pedras pra escalar, sobre onde estão, como chegar. como a cidade foi sede do último encontro dos escaladores do nordeste, ainda dá pra encontrar umas placas aqui e ali. no mais, um mistério. fomos pela manhã procurar uma área de escalada perto do açude, um dos cartões postais da cidade, aos pés da Pedra da Galinha Choca. nos metemos entre as árvores secas e cactos e só encontramos uma via onde deveriam haver pelo menos cinco. perguntamos à gente que estava por ali. nada. voltamos e decidimos seguir ao outro ponto de escalada com vias dentro das nossas capacidades. o taxista nos deixou no centro: queria cobrar caro demais pra andar outros cinco quilômetros. ele explicou como chegar na Pedra de Eurípedes, nosso próximo destino, e seguimos a pé pela avenida.
chegando perto do segundo semáforo, referência pra entrar à esquerda, paramos em frente a uma oficina mecânica e digo ao Oliver que talvez seria melhor perguntar pra ter certeza. na oficina, um tipo baixinho está meio encostado no balcão. pergunto: pra ir pra Pedra de Eurípedes é aqui à esquerda mesmo? ele diz que sim. depois nos olha de cima a baixo e pergunta: vocês são escaladores, é? dizemos que sim. ele completa: eu escalo também. e em seguida: eu levo vocês lá.
aí a paulistana desconfia, faz cara de surpresa, pergunta se tem certeza. ele diz que não tem problema, deixa só avisar aqui o rapaz e dizer que já volto. vamos até o carro dele, ele abre o porta-malas pra gente deixar a mochila e lá está todo seu material: cordas, capacete, cordeletes, sapatos. entramos no carro e ele nos leva até o Vale Perdido, atrás da famigerada Pedra de Eurípedes. entra conosco e nos mostra o caminho até as vias. aponta algumas, diz o nome, a dificuldade. depois de escalar passamos na oficina e fomos tomar algo com ele.
a cidade tem uns cem mil habitantes e uns dez escaladores. Jorginho e sua esposa são dois deles. depois de comer ele ainda nos leva até a pedra que não encontramos de manhã; já é noite mas ele vai com a lanterna, aponta as vias, explica as dificuldades. ele escala todo domingo, e nos sábados que consegue fechar a oficina mais cedo. chegou a nos convidar pra ir com ele e a esposa pra escalar no interior do Rio Grande do Norte no feriado de 12 de outubro. por que eu parei em frente àquela oficina mecânica, e não qualquer outra, ou a loja de eletrodomésticos que vinha antes? por que perguntar o caminho naquele momento, se bastava seguir a indicação do taxista?