elizabeth costello

um amigo na faculdade já tinha me dito muito tempo atrás pra ler “Elizabeth Costello”; que eu ia gostar, que era o tipo de livro que eu precisava ler. não dei bola por qualquer bobagem que tinha lido sobre Coetzee, o autor, e ganhei birra – dessas à toa. aí anos passados uns dias atrás abri o romance (ou o arquivo do romance) e comecei a ler. é ótimo. um pouco também livro pra escritores, cheio dessas ironias e sutilezas metalinguísticas por todos os lados. talvez seja isso: o que eu estava precisando ler. talvez seja um pouco algo que a própria personagem diz num dos muitos discursos do romance:

There used to be a time when we knew. We used to believe that when the text said, “On the table stood a glass of water,” there was indeed a table, and a glass of water on it, and we had only to look in the word-mirror of the text to see them. But all that has ended. The word-mirror is broken, irreparably, it seems. (…) The words on the page will no longer stand up and be counted, each proclaiming “I mean what I mean!” The dictionary that used to stand beside the Bible and the works of Shakespeare above the fireplace, where in pious Roman homes the household gods were kept, has become just one code book among many.

porque nem mesmo nos discursos da própria protagonista o narrador acredita. ao lado está o filho de Elizabeth Costello, um pouco revirando os olhos pelas asneiras que sua mãe está dizendo. ou a nora, indignada com os absurdos defendidos por ela. o romance é, de certa forma, um convite à descrença no próprio romance. e porque eu me decepcionasse com narrativas que se levam muito a sério, com esses narradores em terceira pessoa oniscientes no limite do interesse do autor, com esse esforço dramático pra construir empatia sobre um personagem tão desesperadamente humano – ou mesmo as coisas que eu mesma estou escrevendo; pensar que o espelho das palavras está quebrado e não pode ser reparado. mas tudo bem. a literatura continua adiante.

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