escritor é um bicho estranho

escritor é um bicho estranho. escritor trabalha primeiro, e depois torce pra, talvez, ser remunerado. escritor na internet é ainda mais estranho: trabalha trabalha trabalha loucamente, de graça, e de vez em quando pede uns trocados; se tanto, fica esperando que todo esse capital simbólico se transforme em um convite pra escrever e ser pago por isso. muitas vezes o que recebe são convites pra trabalhar de graça. mas essas pessoas pra quem ele trabalha de graça estão ganhando alguma coisa? ou é porque estão trabalhando de verdade? mas na maioria das vezes o escritor segue escrevendo; segue trabalhando em troca de capital simbólico; segue trabalhando um day job qualquer que ponha comida na mesa e que muitas vezes serve também pra lhe tirar o fôlego e a vontade de fazer o trabalho que ele realmente queria estar fazendo. não tenho dúvida de que a lógica atual do trabalho é torta, mas que estranho pensar que, quando se trata de um escritor, tudo bem que essa lógica não se aplique. tudo bem que ele não receba nada pra trabalhar, que ele tenha que ter dois trabalhos, um que paga e outro que… não é nem um trabalho, afinal. todo mundo sabe escrever, não é mesmo? que mundo louco esse que manda o escritor trabalhar e não quer pagar o escritor pelo trabalho que ele produz. e que vamos dizer do artista? o que é o mundo sem a arte? sem a literatura? mas a gente segue trabalhando, de graça, por amor, pela necessidade de conectar-se, de expressar-se, pelo capital simbólico que às vezes se transforma em capital financeiro e ajuda a pagar as contas, mas nem sempre. quase nunca. porque eu, por mim, trabalharia de graça mesmo; escreveria pro resto da vida sem nunca pedir nada em troca. não fosse o mundo exigir que eu pague por teto, comida, internet. o mundo é um lugar estranho.


*da newsletter da Aline Valek um texto sobre o trabalho do escritor dentro da lógica do trabalho (o trecho começa mais pro final, ali onde diz “Imagine que você chegue numa entrevista de emprego e ofereçam a seguinte vaga pra você …”).

*Clara Averbuck pergunta se “paga?” ou se o jeito é arrumar um “emprego de verdade”.


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