as coisas que (não) acontecem

minha memória. zero. outro dia o fisioterapeuta perguntou minha idade. respondi errado, parei, pensei, deu um branco do tamanho do mundo. “em que ano você nasceu?” ele perguntou, mui solícito. fiz as contas, estamos em 2008, não é? 23. ok, tenho 23 anos. falei. mas fiquei pensando, diabos, não me lembro de ter feito 23 anos. cabelos brancos. tipo, não é um ou dois. é um monte, concentrado num só ponto da minha cabeça. minha memória. já falei da minha memória? sério, estou começando a ficar preocupada com a minha memória. cara da seção de alunos quando fui trancar matéria: “é FLC0455”. a sigla da matéria, que tem que anotar no papel de trancar matéria. abaixei os olhos pra anotar. esqueci o que ele tinha falado. “minha memória vence em 10 segundos” falei. ele repetiu, achando graça. anotei a droga da sigla. claro que a sigla não era essa. tinha uns números parecidos, mas inventei agora. as pessoas falam comigo. eu faço cara de sonsa e peço pra repetir. porque já esqueci o que ela estava dizendo quando começou a falar, e se eu pensar no que responder vou esquecer do que ela estava dizendo quando terminou de falar. balança: 4kg a mais. onde meu deus do céu? a calça continua larga e a calça que eu usava quando pesava o que peso agora continua mais larga ainda. esqueci meu cachecol no trabalho hoje. vento da porra saindo da fisioterapia. vou fazer comida esqueço da ordem dos ingredientes. tenho que pensar horrores antes de começar. e se não pensar, fodeu. sério. claro que eu poderia enumerar episódios. claro que não me lembro de mais nenhum. mas ando tomando uns sustos. me amuletei toda com post-its (os benditos troços amarelos que grudam, já diria minha professora de teoria literária) espalhados pela mesa com o que deve ser feito, mais caderno disso e daquilo, anotações e agenda que sempre esqueço de conferir. minha memória está tipo superfície lisa e pouco aderente. só fica o que colarem com superbonder e a porra. falta de memória tem um limite, não?

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