entre uma aduana e outra no caminho do paso de san francisco

dois dias em país nenhum, metidos num limbo diplomático na cordilheira dos andes. teoricamente é solo argentino, mas o passaporte dizia outra coisa. primeiro dia Fernando basicamente dormiu, eu caminhei um pouco enfrentando o vento pra encontrar umas lagoas, uns passarinhos e muitas vicuñas.

a puna não me agarrou e talvez o corpo tenha algum tipo de memória porque no último mês estava nessa de sobe e desce da altitude sem nenhuma periodicidade. cansaço sim, claro, mas dava pra caminhar sem sentir demais as consequências da falta de oxigênio. só os músculos e o fôlego reclamavam um pouco, mas a cabeça e o estômago estavam contentes. segundo dia Fernando se sentia melhor e nos metemos a subir uma montanha em frente ao refúgio, uma que alcança quase 4500 metros de altitude. nos acompanhou uma cachorrinha filhotona que foi reclamando quase todo o percurso e só sossegava quando alguém se sentava pra ela subir no colo ou quando a gente lhe dava bolacha de água e sal.

não subimos tudo e fomos descendo por onde não tinha caminho em direção a uma lagoa cheia de flamingos, que obviamente voaram pra longe quando perceberam que nos aproximávamos.

as distâncias na altitude são infinitas. aí que chegamos e o Fernando estava apunado outra vez, todo estragado, e dormiu o resto do dia com o corpo todo xingando a falta de oxigênio. eu sem livro que meu kobo quebrou fiquei ali tomando mate no sol, meditando e às vezes perturbando o Fernando pra ele tomar água (os montanhistas insistiam diz pra ele tomar água e ele todo desmaiado e eu pensando mas vou meter água pela orelha do rapaz que ceis querem que eu faça?). pensamos que podia ser melhor voltar pra Fiambalá mas não tinha ninguém ali que ia voltar e na aduana não passava alma viva. só o vento. restava encarar a noite e no dia seguinte descobrir pra onde nos mandava a sorte.

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