yavi, mate e música

em Tafí del Valle um senhor amigo dos donos me deu várias dicas de lugares e caminhos do norte argentino, entre elas a excursão por San Antonio de los Cobres e a cuesta de Lipán, e entre elas o povoadinho de Yavi, a uns 15 km de La Quiaca. como o hostel de La Quiaca era essa belezinha aproveitei pra ficar mais tempo, e também porque a fronteira com a Bolívia no segundo dia estava fechada devido às manifestações do lado boliviano (com a proximidade das eleições e tal) e as meninas não puderam cruzar para tomar o trem da quarta-feira. aí na quarta-feira ficamos foi à toa, abusando da internet que vinha a passo de lhama. no dia seguinte elas partiram, e eu fui até o mercado de onde saem os remises (uns táxis coletivos) que iam a Yavi. um caminho lindo por essa paisagem desolada de puna, mas uns morros ao fundo com pinta de vulcânicos ou alienígenas, com linhas em onda fazendo desenhos nas encostas. umas vicunhas na beira da estrada, com aquela graça que falta às lhamas, e um tipo mui simpático que foi conversando comigo pelo caminho me contando que no inverno não ficava porque um frio terrível etc. atrás dos morros alienígenas uma curva à esquerda e umas casinhas de adobe se alinhando por uma rua larga. estávamos em Yavi. desci junto da primeira pessoa e resolvi seguir caminhando. Yavi é um povoadinho de adobe, todo nessa cor alaranjada, seco como convém a essa região de altura. àquela hora (duas da tarde) nenhuma alma viva na rua. alguns cães, talvez.

segui uma placa que indicava a igreja e o museu, dei uma pracinha circular e passei pela frente da igrejinha, que estava fechada. segui a rua e outra placa dizia algo como “pinturas rupestres”. segui. acabei fazendo uma volta em torno de um morro e depois subindo pra alcançar um mirador de onde se via todas as cinco (ou seis) ruas do povoado. dentro de um carro parado ali em cima um casal fazia algo que eu não fiz questão de descobrir o que era.

e um sol forte desses de altitude que mal se sente mas bem queima. desci de volta ao centro pensando que bem, lindo lugar, mas não tem muito mais que fazer e talvez me meta pelos morros esses alienígenas de volta à estrada pra tirar umas fotos lindas. no meio do caminho com toda essa pinta de turista (só turista que está na rua na hora da siesta) cumprimento um tipo com cara de artista parado sob a porta de uma casa e ele me pergunta se estou procurando algum lugar pra comer. digo que não, estou caminhando, no más, conhecendo. me pergunta de onde eu sou. daí inicia a conversa e adiante ele me pergunta se eu curto música brasileira, se escuto etc. bueno, algo sempre se escuta e se conhece, por osmose. porque um amigo lhe passou um tal músico brasileiro chamado Sérgio Santos mas um cd gravado que não tinha os nomes das músicas, o nome do disco, nada. e ele queria saber mais, mas tinha buscado na internet e um nome comum desses sem saber o que buscar não havia encontrado nada. digo que posso escutar e quem sabe me soa familiar, enfim. acabei que passei a tarde tomando mate com ele, que era músico, artesão, se chamava Pablo e era amigo dos donos do hostel de La Quiaca. ouvimos o tal Sérgio Santos e anotei algumas partes das letras das músicas pra buscar depois na internet. também ouvimos um monte de outras coisas brasileiras e eu traduzi pra ele algumas letras. em um momento apareceram umas amigas e mais mate, mais conversa.

ele depois me levou pra conhecer a igreja e a biblioteca e me passou um monte de nomes da música folclórica do norte argentino pra eu buscar quando tivesse internet de verdade (nunca). voltei a La Quiaca no fim do dia e conversando com uma senhora no táxi descobri que os morros alienígenas se chamavam Ocho Hermanos y sí, hermosos, no? pena que o vidro do carro estava só o pó e não dava pra tirar nenhuma foto.

blog

página inicial